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Não quero acreditar em utopias, quero ter ideais, quero saber como se cria essas coisas sem nome que nos desagregam a alma, lá onde ela está agregada, apegada, colada, agarrada às coisas de sempre, que não fazem sentido, nem fazem nada, que não são estrada, nem são escada, e que nos prendem como se fossemos quadros de pó nas costas de uma parede.Quero ter ideais e ser pó, sem quadro fixado, pregado, agregado, quero voar desapegada das coisas. Quero ser o homem que viajou de mota para outros sentidos sítios e, quando voltou já não era ele e a terra onde nasceu já não era sua, não porque não estivesse no lugar, todas as terras são quadros, mas ele já era pó. E voou até outra terra onde vo(lt)ou a ser homem.Quando crescemos há lugares que ficam mais pequenos, e então vamos para sítios maiores que nos engolem ou nos agigantam.
Dizem que procurou as minas do rei Salomão em África, até ter posto os olhos no céu. Depois mataram-no e cortaram-lhe as mãos, porque é com as mãos que os homens fazem coisas, mas aquelas mãos sem homem já não faziam nada. Sepultaram-no e ele foi pó. E voou, voou, voou. Os ideais continuaram a respirar noutras vozes, porque os ideais não precisam de mãos para fazer coisas, precisam de Homens. Voou e foi céu vermelho (todos os Homens olharam para cima). Quero ter ideais, desses que nunca morrem e que fazem homens céu. Quero voar desta sensatez muda, que escuta e observa, que nada agita. Não há manifestações pacíficas.